Mostrando postagens com marcador Rockfeller. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rockfeller. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Genocídio dos índios cintas-largas em Aripuanã Rondônia: Rockfeller e a cobiça pelos minérios raros

Por que, batizaram de Reserva Roosevelt a área indígena dos cintas largas em Rondônia? Eu escrevi sobre esse assunto em nov/2020, sem saber que no local existiu a chacina dos índios cintas-largas. Em 1914, a cobiça de Roosevelt na Amazônia brasileira Rondônia, a procura por ouro,  diamante, minérios raros, Rosevellt até malária  contraiu na floresta quase morreu, mas descobertas importantes fez dos minérios existentes nas terras indígenas. Foi o Marechal Rondon e militares que o guiou na excursão, até  batizaram o "Rio da Dúvida" como Rio Roosevellt.  O gringo Roosevellt retornou aos EUA e  levou com ele as descobertas para o chefe Rockfeller. E Rockfeller com sua clã demoníaca, genocída, retornou na Amazônia para remover os indígenas como ele disse: sentados em cima das riquezas existentes. Jamais, o povo brasileiro ficou sabendo desses crimes praticados, por que os militares guardiões da floresta se calaram?  por que permitiram? Infelizmente, a matança dos indígenas continua nos dias atuais. [1]
As vítimas eram cintas-largas, uma pequena tribo indígena da Amazônia brasileira;
Mas agora, empresas brasileiras e estrangeiras ambicionavam suas terras;

"depósitos de metais raros estavam sendo encontrados na área [ dos cintas-largas].

Que tipo de metais, não ficou bem claro. Uma espécie de blecaute de segurança foi imposta, apenas esporadicamente rompida por vagos relatos das atividades de empresas americanas e européias e o contrabando para os EUA dos metais raros não identificados"

Os índios estavam marcados para a remoção.

GERARD COLBY

COM

CHARLOTTE DENNETT

 

SEJA FEITA A VOSSA VONTADE

A Conquista da Amazônia: (Podemos chamar de conquista genocida dos indígenas)

Nelson Rockefeller e o Evangelismo na Idade do Petróleo [2]

  • Tradução de JAMARI FRANÇA
  • EDITORA RECORD
  • Rio de Janeiro • São Paulo - ISBN 85-01-04532-2
  • Aos 47 jornalistas assassinados na Guatemala durante ditaduras militares entre 1978 e 1985 e a seus colegas mortos em condições similares no Brasil e em outros países quando tentavam levar ao mundo o que estava acontecendo dentro das fronteiras de nações "em desenvolvimento"
  • A perda da liberdade seria logo seguida da supressão da liberdade de imprensa; como esta é um ramo essencial da liberdade, talvez preserve o todo.
  • - JOHN PETER ZENGER
  • (1697-1746)

 

Tentar sensibilizar outras pessoas sobre crimes contra humanidade não é uma tarefa fácil, especialmente quando estes crimes ocorrem em terras distantes e  nomes poderosos do próprio país são levantados.

No Brasil, documentos que poderiam ter sido úteis na identificação dos responsáveis por crimes sérios contra os povos indígenas desapareceram num incêndio misterioso nos arquivos ao Serviço de Proteção ao Índio. Felizmente, relatórios de antropólogos e circunstâncias políticas pouco comuns permitiram que o procurador geral do Brasil conduzisse sua própria investigação.

Mas a conquista da Amazônia não é apenas sobre a Amazônia brasileira. A bacia do rio Amazonas, incluindo seus poderosos afluentes, também abrange boa parte do Peru, Equador, Bolívia, Colômbia e parte da Venezuela, uma área do tamanho dos Estados Unidos. Nem a conquista é sobre atrocidades. Relatórios de antropólogos e funcionários do governo geralmente descrevem genocídios e etnocídios como um processo cruel desnecessário no desenvolvimento da fronteira.

No fim de nossa investigação, tínhamos constatado que este processo tem similaridades marcantes com a conquista do Oeste americano e envolvia algumas das mesmas e poderosas forças políticas e econômicas americanas.

Nos países da bacia amazônica, a conquista seguiu a tendência geral de exploração de petróleo, borracha e minerais, construção de estradas e pistas de pouso, apoio a pesquisas visando à colonização, expansão da agricultura comercial (em detrimento da agricultura de subsistência dos indígenas), devastação da floresta tropical e competição dos EUA com outras grandes potências por esferas geopolíticas de influência. Tudo isso assistido por um sistema de ajuda gradualmente montado ao longo de trinta anos por Nelson Rockefeller, começando como coordenador de Assuntos Americanos de Roosevelt, durante a Segunda Guerra Mundial, e a seguir como arquiteto de ajuda externa de Truman.

Os missionários entraram no lado político, cultural e social da conquista, sendo seu líder influenciado pela filantropia de Rockefeller, e uma rede de contra insurreição que atendia aos objetivos desenvolvimentistas de Nelson Rockefeller. Pg.19,


O Instituto Summer de Lingüística (SIL) foi contratado por ditaduras militares e governos civis, geralmente liderados por aliados de Nelson, para pacificar as tribos e integrá-las a economias nacionais cada vez mais sintonizadas com o mercado americano. O SIL usou a Bíblia para ensinar os povos indígenas a "obedecer ao governo, porque toda autoridade vem de Deus". Na nossa pesquisa descobrimos que os contestadores desse pressuposto e do legado deixado por Rockefeller e Townsend geralmente pagavam o preço do repúdio recebendo críticas, rejeição e um silêncio ensurdecedor. Lembramos particularmente o falecido Michael Lambert, um ex etnobotânico formado pela Universidade de Harvard que fez pesquisa de campo na Amazônia. Ele será lembrado por sua calma determinação de chamar a atenção de seus colegas de Harvard para o genocídio dos índios da Amazônia. Ele descreveu sua experiência como dolorosa.

Ninguém, no entanto, sofreu mais do que os povos indígenas. Desvendar os segredos levou muitos anos para nós, mas, em última análise, para eles. Se este livro tomar futuras investigações mais fáceis e mais criteriosas, então terá servido aos seus propósitos.  Janeiro de 1995 pg.20 


O silêncio escuro e confortante do confessionário rompeu-se quando a pequena porta corrediça bateu ao ser aberta, espalhando a luz através de uma pequena tela. "Sim, meu filho?", encorajou o sacerdote quando a voz masculina, sussurrante, balbuciou. Então, das sombras, jorrou uma torrente de crimes tão esmagadora que o voto de silêncio do padre Edgar Smith tremeu até as fundações jesuítas. Não podia mais viver com a consciência. Além disso, não lhe pagaram os quinze dólares prometidos. 

As vítimas eram cintas-largas, uma pequena tribo indígena da Amazônia brasileira. Batizados numa alusão aos largos cintos de casca de árvore que eram sua única vestimenta, este grupo de mais ou menos quatrocentas almas vivera durante séculos ao longo do rio Aripuanã, caçando e pescando com flechas embebidas em curare, resistindo com sucesso a todos os intrusos. Mas agora, empresas brasileiras e estrangeiras ambicionavam suas terras. Os índios estavam marcados para a remoção. Uma vez que a legislação brasileira protegia tecnicamente os índios como tutelados pelo Estado, só a violência sub-reptícia poderia ser usada. Era uma solução bastante comum. O supervisor geral de uma empresa local de borracha, Francisco de Brito, já ostentava o título de Assassino Campeão de índios, por levar qualquer índio capturado para uma "visita ao dentista": a vítima era forçada a "abrir bem" e levava um tiro de pistola na boca. Um bando de cintas-largas escapara da solução final se internando bem dentro da floresta. Felizmente para Brito, encontrou-se um homem que conhecia o suficiente da cultura dos cintas-largas para saber o dia preciso em que a maioria do povo desta aldeia deveria se reunir. A ocasião seria traiçoeiramente festiva: a reunião anual de famílias. Os índios se agrupariam no centro da aldeia para rezar, celebrar e consultar os espíritos dos ancestrais, representados por dançarinos mascarados. (Pg.21)


Brito concluiu que a cerimônia seria o alvo perfeito para um bombardeio aéreo. Contratou um piloto e um Cessna comercial que sobrevoou a aldeia no dia sagrado, jogando açúcar na primeira passada e dinamite na segunda. Para caçar os sobreviventes, Brito virou-se para seu capanga, Chico, um homem muito afeiçoado ao facão. Pereira era um dos recrutas de Chico.

"Subimos de lancha o rio Juruena", disse Pereira. Havia seis de nós, homens experientes, comandados por Chico, que costumava apontar a metralhadora em nossa direção sempre que dava uma ordem. Levamos uns bons dias corrente acima na serra do Norte. Depois disso, nos perdemos no mato, embora Chico tivesse trazido uma bússola japonesa. Por fim, um avião nos encontrou. Foi o mesmo avião usado para o massacre dos índios e eles nos jogaram algumas provisões e munições. Depois disso, seguimos durante cinco dias e ficamos sem comida outra vez. Atravessamos uma aldeia indígena que tinha sido arrasada

( ... ) colhemos um pouco da mandioca dos indígenas para nos alimentar e pescamos alguns peixes pequenos. Àquela altura, estávamos enfastiados e vários de nós queriam voltar, mas Chico disse que mataria qualquer um que tentasse desertar. Foram mais cinco dias depois disso antes que víssemos uma fumaça. Mesmo assim, os cintas-largas estavam a dias de distância. Estávamos com bastante medo uns dos outros. Neste tipo de lugar, as pessoas atiram umas nas outras e são alvejadas, pode-se dizer, sem saber a razão.

Quando abrem um buraco em você, eles têm mania de enfiar uma flecha na ferida, para colocar a culpa nos índios.

Os homens abriram caminho através da selva, lutando contra hordas de insetos, agüentando o calor e os temporais. "Fomos escolhidos a dedo para a tarefa, tão quietos quanto qualquer grupo de índios quando se tratava de esgueirar-se por baixo e por fora das árvores.

"Quando chegamos ao território dos cintas-largas, não houve mais fogueiras nem conversas. Assim que avistamos a aldeia, acampamos para passar a noite.

Levantamos antes do amanhecer, depois nos arrastamos metro a metro através dos arbustos até ficarem ao nosso alcance. Depois disso, esperamos o sol surgir."

O clamor da noite na selva aquietou-se com o amanhecer. Um indígena pequeno, de uns cinco anos, acabara de sair para ver os mais velhos trabalharem nas novas cabanas que estavam construindo, quando urna barragem assassina de balas caiu sobre a aldeia, derrubando os homens onde se encontravam. Brancos armados apareceram entre as cabanas, disparando as armas indiscriminadamente, até que só sobraram o garoto e urna jovem índia (para quem ele correra em busca de proteção). A criança horrorizada estava "se esgoelando". Pereira tentou deter Chico quando ele andou na direção da criança, mas Chico lhe deu um safunão. (Pg.22)


Chico varou a cabeça da criança com um tiro. Pereira pediu pela vida da garota, lembrando a Chico que·Brito gostava de prostituir jovens índias e invocando o apetite sexual do próprio grupo. Chico não se sensibilizou. Ele conseguia satisfação sexual através da violência.

"A gente pensou que ele tinha ficado maluco", contou Pereira, e ficamos muito assustados. Ele amarrou a garota índia de cabeça para baixo numa árvore, as pernas separadas, e a rasgou ao meio com o facão. Quase com um único golpe, eu diria. A aldeia parecia um matadouro.

Ele se acalmou depois de cortar a mulher e nos disse para queimar as cabanas e jogar os corpos no rio. Depois disso, pegamos nossas coisas e retomamos o caminho de volta. Fomos em frente até o cair da noite, tomando cuidado para esconder nossas pegadas. ( ... ) Levamos seis semanas para encontrar os cintas-largas e uma semana para voltar.

Quando chegaram em Aripuanã, urna Dodge City tropical, traziam amostras de minério encontradas na área para entregar a Brito e "agradar à companhia". O padre Smith se conteve. Usando todos os poderes de absolvição ao seu alcance, ele convenceu Pereira a repetjr a história diante de um gravador: "Gostaria de dizer agora que nada tenho pessoalmente contra os índios", alegou Pereira. Mas as terras indígenas eram ricas em ouro, diamantes e minerais raros. "O fato é que os índios estavam sentados sobre terras valiosas e nada faziam com elas. Eles têm urna maneira de achar a melhor terra para plantações e há também todos aqueles minerais valiosos por perto também. Eles têm de ser convencidos a partir e, setudo mais fracassa, então resta a força.,, 1

O padre Smith entregou a fita às autoridades locais, exigindo urna investigação, mas durante anos o massacre dos cintas-largas em 1963 foi abafado. Três promotores se retiraram do caso, alegando conflito de interesses. interesses. Somente em 1968, quando um clamor no Congresso sobre as vendas crescentes de terras da Amazônia para empresas estrangeiras estimulou revelações do ministro do Interior sobre o genocídio generalizado de índios, foi que o procurador-geral pressionou por um julgamento. O massacre dos cintas-largas não foi um caso isolado.

Mais de 62 milhões de dólares em propriedades indígenas tinham sido roubados na década anterior e pelo menos mil crimes -variando de malversação a assassinato  foram colocados na soleira da porta da elogiada autarquia indígena governamental, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Uma comissão especial passara 58 dias viajando dezesseis quilômetros para fazer um levantamento das tribos indígenas, visitando mais de 130 postos. Pg.23


As evidências de genocídio eram esmagadoras. Vinte volumes de provas foram coletados, documentando a destruição de tribos inteiras. Ataques de estranhos usando de tudo, desde comida envenenada a roupas infectadas com varíola, resultaram na morte de dezenas de milhares de índios. Os antropólogos estimam que a população indígena do Brasil variava de pouco menos de cem mil a um máximo de duzentos mil em 1957 .

2 Em 1968, as estimativas tinham sido reduzidas em 50% 3: de alguma coisa em torno de quarenta a cem mil homens, mulheres e crianças haviam sido mortos. Os índios ao norte do rio Amazonas tinham sofrido especialmente após 1964, quando um golpe milita derubou o governo eleito. Oficiais nacionalistas do Exército, liderados pelo general Albuquerque Lima, ministro do Interior, queriam que o holocausto parasse  junto com a ocupação da Amazônia por empresas estrangeiras que, alegavam, tinham atiçado as chamas. Àquela altura, a maior parte das testemunhas do massacre dos cintas-largas já desaparecera ou morrera. Os arquivos do SPI foram destruídos num incêndio misterioso. Finalmente, canhões e tanques intervieram. O endurecimento do regime, com a edição de medidas que davam poderes extraordinários ao executivo, levou à deposição do procurador-geral nacionalista e do ministro do Interior. Nenhum dos 134 funcionários do SPI acusados de crimes jamais iria a julgamento.

A acusação do procurador-geral de que o SPI se corrompera por estar privado de recursos governamentais e o "impacto desastroso da atividade dos missionários" permaneceram oficialmente ignorados. Da mesma maneira ignorou-se a denúncia do Jornal, do Brasil em 1968 de que "na realidade, aqueles no comando destes postos de proteção aos índios são missionários norte-americanos  eles estão em todos os postos - que desfiguram a cultura indígena original e forçam a aceitação do protestantismo" .

4 Mas funcionários da organização missionária fundamentalista americana que trabalhavam com o SPI junto às tribos - O Instituto Summer de Lingüística (SIL), conhecido nos Estados Unidos por sua alcunha menos científica, os Tradutores da Bíblia Wycliffe - negaram a ocorrência de qualquer genocídio. O diretor da sede brasileira do SIL descartou todas as informações sobre genocídio/ e o fundador do SIL, William Cameron Townsend, negou conhecimento dos massacres.6 Pg.24


O caso dos cintas-largas - e os próprios índios - parecia condenado ao esquecimento até que o jornal The Sunday Times, de Londres, ressuscitou em 1969 a acusação de genocídio. Norman Lewis mais uma vez levantou o espectro de empresas estrangeiras mudando-se para a Amazônia brasileira. Ele informou que "depósitos de metais raros estavam sendo encontrados na área [ dos cintas-largas].

Que tipo de metais, não ficou bem claro. Uma espécie de blecaute de segurança foi imposta, apenas esporadicamente rompida por vagos relatos das atividades de empresas americanas e européias e o contrabando para os EUA dos metais raros não identificados" .7 Pouco mais de um ano depois, a Academia Internacional de Polícia, uma escola em Washington patrocinada pela Agência para o Desenvolvimento Internacional (AID) mas, na verdade, dirigida pela CIA,1  informaria que uma nova Guarda Indígena estava sendo treinada no Brasil. 9 A Guarda, nos moldes da Polícia Tribal do Departamento de Assuntos Índios (BIA) dos EUA, foi colocada sob a autoridade do substituto que o regime arranjou às pressas para o SPI,  a Fundação Nacional do Índio (Funai). A Funai, por sua vez, foi colocada sob o comando do ex-chefe do serviço militar de informações. Seriam necessários mais dois anos para que um agente graduado da Funai revelasse que a Guarda Indígena estava arrebanhando índios para serem "reeducados" num campo de concentração em Crenaque, no estado de Minas Gerais.10  "Estou cansado de ser um coveiro dos índios", declarou o agente ao pedir demissão da Funai. "Não pretendo contribuir para o enriquecimento de grupos econômicos ao custo da extinção de culturas primitivas." 11 Na época, a Funai já adotara a política do BIA de arrendar terras indígenas para empresas mineradoras, enquanto os superiores militares do Ministério do Interior cooperavam com a agência americana Pesquisa Geológica num levantamento aéreo da Amazônia patrocinado pelo BIA. 12 Entre as empresas americanas que receberiam permissão para entrar na reserva dos cintas-largas para explorar a cassiterita, componente vital da produção de estanho, estava uma firma parcialmente controlada por um amigo de Nelson Rockefeller.  

De 1969 até meados da década de 1970 na Ditadura Militar, a Fundação Nacional do Índio (Funai)  manteve silenciosamente em Minas Gerais dois centros para a detenção de índios considerados “infratores”.https://www.youtube.com/watch?v=FwSoU3r1O-Q&t=4s  [5]


Em junho de 1969, um enorme jato prateado com as palavras "The United States of America" desceu na direção do aeroporto de Brasília, a futurística capital do país no Planalto Central. Enquanto a sombra do avião passava sobre os prédios brilhantes de aço e vidro que simbolizavam o compromisso do Brasil de conquistar seu interior selvagem, milhares de soldados cercavam o ultramoderno aeroporto e alinhavam-se nas ruas. O Air Force Two pousou com um guincho e rolou na direção de uma multidão de dignitários que aguardavam perto do terminal. Uma porta se abriu e um homem desceu a rampa com sua conhecida mandíbula quadrada aninhando um amplo sorriso. 

Nelson Rockefeller chegara. Pg.25 


Para a maior parte da equipe da embaixada americana, Rockefeller era apenas mais um político poderoso que por um acaso era muito rico. Ele era o governador republicano de Nova York que por duas vezes tentara inutilmente ser o candidato presidencial de seu partido. Segundo a opinião geral, ele ainda não estava liquidado. A presença dele numa missão exploratória presidencial deixava pouca dúvida sobre suas ambições políticas.

Mas, para muitos dignitários brasileiros presentes, Nelson Rockefeller era muito mais do que um político rico. Ele era, até certo ponto, uma personificação de suas mais caras esperanças num mundo conturbado. Talvez mais importante, era também um símbolo vivo do passado, trinta anos antes, quando o conheciam simplesmente como o Coordenador.

Estes brasileiros sabiam de um outro Rockefeller, muito menos público: o Rockefeller Latino-Americano. Durante a Segunda Guerra Mundial, como coordenador de Assuntos lnteramericanos dos EUA, de promoveu no hemisfério uma implacável guerra econômica e psicológica contra trabalhadores indígenas grevistas e simpatizantes nazistas. Depois, como secretário de Estado assistente para a América Latina no governo Franklin Roosevelt, lançou a Guerra Fria antes mesmo que fosse declarada, fundindo uma unidade hemisférica contra os soviéticos na Conferência Pari-americana de 1945 e na conferência que fundou as Nações Unidas no mesmo ano. Seu sucesso em lançar as fundações legais de um pacto militar regional pavimentou o caminho para a Organização dos Estados Americanos (OEA), para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e para a Organização do Tratado do Sudeste Asiático SEATO que se tomou a raison d'être para a guerra do Vietnã. Ali estava um aliado confiável contra o comunismo, fosse interno ou externo.

Era também um valioso aliado econômico. Seu conceito pessoal de missão, fruto das tradições religiosas e da inabalável crença calvinista de sua família na capacidade de promoção do capitalismo, tinha sido amenizado por um respeito pela cultura latino-americana raro entre americanos. Seu entusiasmo quase evangélico pelo desenvolvimento do capitalismo no Terceiro Mundo tinha sido vital no lançamento dos programas americanos de ajuda externa, especialmente o programa Ponto IV de Harry Truman. Sob Dwight Eisenhower, ele levou seu compromisso ao extremo, como elemento pessoal de ligação do presidente com a CIA e assistente especial para estratégia de Guerra Fria e guerra psicológica. Antigo confidente do presidente e de lideranças empresariais em toda a América Latina, Rockefeller era um  parceiro confiável e proprietário discreto de vastas fazendas, bancos gigantescos, minas e até, através da IBEC, uma das corporações mais diversificadas do hemisfério, de supermercados. Herdeiro de propriedades petrolíferas nas Américas do Sul e Central, ele também era irmão de David Rockefeller, presidente de uma das principais fontes de capital para a região, o Chase Manhattan Bank. Pg.26


Nelson Rockefeller era, em resumo, o emissário perfeito de Richard Nixon aos círculos mais poderosos do Hemisfério Sul-americano. Um entusiasta vigoroso escolado nas sutilezas das altas finanças e da ajuda externa, impregnado da rica vida cultural e política da América Latina e conhecedor das mais secretas operações de informação dos EUA na região um insider entre insiders na Junta de Assessoramento de Informação no Exterior. Todo este poder, por sua vez, provinha da riqueza criada pela Standard Oil, a empresa que seu legendário avô tinha fundado e conduzido para uma definitiva hegemonia sobre o comércio de petróleo da América Latina.

Nelson devia ao avô sua presença no Brasil naquele dia, John D. Rockefeller, pai, era a fonte de seu poder e a inspiração de sua vida. Estrategicamente colocado como um robber baron • medieval na encruzilhada de um mundo que se industrializava, o velho Rockefeller extraíra um tesouro pessoal maior do que qualquer coisa já vista no mundo e - em termos relativos  jamais se veria ou permitiria  novamente. Desta vontade de ferro forjara-se um império, estendendo- se ao longo de trilhos de trem através da América e depois para as nascentes petrolíferas da América Latina e os mercados do mundo. O petróleo trouxera Nelson Rockefeller ao Brasil décadas antes e o país sempre foi um de seus favoritos. Seu vasto interior amazônico guardava o sonho brilhante de uma nova fronteira para o Ocidente, assim como o Oeste americano capturara a imaginação da geração de seu avô. O desafio do Oeste, simbolizado pelos índios e as terras virgens que defendiam, tinha sido enfrentado não apenas por tropas e estradas de ferro; os missionários religiosos financiados pelo avô e os missionários seculares enviados pela grande Fundação do avô tinham desempenhado papéis vitais. Agora o zelo missionário impulsionava a arrancada de Nelson Amazônia adentro. E por este zelo, Nelson tinha uma grande dívida com suas lembranças de infância do mundo de seus pais. Pg.27


NOTAS:

1.  https://mudancaedivergencia.blogspot.com/2020/11/rio-aripuana-no-mato-grosso-998-km-de.html

2.https://drive.google.com/file/d/16DppK0hO3jL74ZpGkXY6gP_rVJl9VPYM/view?fbclid=IwAR0uZJ97Y7GOJyqciI61qyYOKN4Fh9MPBJ03o0K7xr6lWMNoiv8EqRzQoSQ

3. http://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/conflito/ro-a-terrivel-historia-dos-cinta-larga/

4. https://www.ufrgs.br/museumin/MINDiamantes_Brasil.htm

5. https://reporterbrasil.org.br/2014/04/ditadura-criou-campos-de-concentracao-indigenas/

6. Créditos: Rogerio Brito


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Rockfeller, USA, e a exploração da Amazônia permitida pelos "novos militares"

 " É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até os dias de hoje, tudo sempre se transmutou em capital europeu ou, mais tarde, em capital norte-americano, e como tal se acumulou e se acumulou nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas ricas em minerais, o homem e sua capacidade de trabalho e consumo, recursos naturais e recursos humanos”.

  • Em “Veias Abertas da América Latina”, do uruguaio Eduardo Galeano. Em suas quase 500 notas, o livro apresenta como nosso continente foi expropriado ao longo dos séculos. No livro é citado um acordo Brasil-EUA de 1964 na ditadura militar, que permitia que os aviões da Força Aérea sobrevoassem e fotografassem a floresta amazônica: “Eles usaram cintilômetros para detectar depósitos minerais radioativos pela emissão de comprimentos de onda de intensidade variável, eletromagnetômetros para radiografar o solo rico em minerais não-ferrosos e magnetômetros para descobrir e medir o ferro. As reportagens e fotografias adquiridas no reconhecimento da extensão e profundidade das riquezas secretas da Amazônia foram colocadas nas mãos de empresas privadas interessadas no assunto, graças aos bons serviços do Serviço Geológico dos Estados Unidos. Na imensa região foi comprovada a existência de ouro, prata, diamantes, gipsita, hematita, magnetita, tântalo, titânio, tório, urânio, quartzo, cobre, manganês, chumbo, sulfatos, potássio, bauxita, zinco, zircônio, cromo e mercúrio.

Gerard Colby, entrevistado pelo jornal Folha de S. Paulo em 1996, disse: “Depois do golpe militar de 1964, não só o destino do Brasil passou por uma imensa mudança, mas a Amazônia e os índios se abriram para um genocídio ainda maior. E Nelson Rockefeller sabia o que estava acontecendo dentro do país. O que ele faz? Ele viaja ao Brasil em 1969, se reúne diretamente com a liderança militar, recebe o relatório do Serviço Nacional de Inteligência … e em seguida você vê Nelson pedindo apoio para o que ele chama de “novos militares” para ser a vanguarda do desenvolvimento. Um militar que promoveria coisas como a Rodovia Transamazônica. Não é de surpreender que, em 1972, o New York Times  publique o primo de Nelson, Richard Aldrich, que era então o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, afirmando entusiasticamente que “esta estrada é terrivelmente importante para o desenvolvimento do interior. Já está trazendo pessoas e tornará as matérias-primas muito mais acessíveis ao mundo exterior.”

Em 2021, Os "NOVOS MILITARES" continuam obedientes, e tornará as matérias-primas muito mais acessíveis ao mundo exterior.”, como mencionou o primo de Nelson Rockfeller, Richard Aldrich em 1972 ao  New York Times.

Mão da América, obra de Niemeyer inspirada no livro de Galeano que é símbolo de SP

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

ABRINDO A CAIXA PRETA DO NIÓBIO



Adriano Benayon*
O nióbio, mineral estratégico inestimável, sai do País subfaturado e por vias clandestinas. É exemplo gritante da entrega dos recursos naturais às empresas transnacionais, que realizam ganhos no exterior na ordem dos trilhões de dólares, enquanto aqui ficam só buracos no subsolo.

Um trilhão é um milhão vezes um milhão. Escreve-se com doze zeros. 10 trilhões tem treze zeros. A produção bruta de todos os bens e serviços (PIB) do Brasil, nas contas oficiais, somou, em 2010, o equivalente a US$ 2 trilhões, e ainda seria menos, se o câmbio do real não estivesse sobrevalorizado.

Só com o nióbio o Brasil deixa de ganhar anualmente centenas de bilhões de dólares. Diretamente perde cerca de US$ 40 bilhões, com o descaminho e com a diferença entre o valor das ligas ferro-nióbio no exterior e seu preço oficial  de exportação, vezes a quantidade.

Por ter a economia brasileira sido desnacionalizada e desindustrializada, a perda total é um múltiplo, maior que dez, dessa quantia. De fato, os  bens finais em cuja produção o nióbio entra, atingem preços até 50 vezes maiores que os valores reais no exterior dos  insumos à base de nióbio.

Esses insumos - como os do tântalo, do titânio, do quartzo etc. -  são “vendidos” pelo Brasil por frações de seu valor no exterior. Já a China industrializa suas matérias-primas. Com isso o produto nacional bruto multiplicou-se por 20  nos últimos 30 anos, tornando-se a 2ª maior potência mundial.

Os insumos à base de nióbio são usados nas indústrias aeronáutica, aeroespacial e nuclear e em segmentos de tecnologia avançada em outros setores. Graças ao nióbio, a qualidade do aço e de outros metais é grandemente aumentada e o peso diminuído, bastando 0,1% de nióbio nas ligas. 

Com ele se produzem bens de altíssimo valor agregado. Ora, 95% da produção mundial dele vêm do Brasil, onde estão 98% das jazidas. Se o Brasil exercesse sua soberania, poderia valer-se desses fatos para assumir, no nióbio, posição mais forte que a do conjunto dos países da OPEP em relação ao petróleo, de cuja produção mundial eles não respondem sequer por 50%.

A maior mina do País, em Araxá (MG), é controlada pela CBMM, cujo capital pertencia 50/50 (segundo declaravam), aos Moreira Salles, ligados ao grupo Rockefeller (EUA), e à Molybdenum Corp (EUA). A segunda mina é da Anglo-American (Inglaterra), em Catalão (GO).

A participação dos Moreira Salles na CBMM caiu, este ano, para 20% com a venda de 15% a japoneses e sul-coreanos, e de 15%, por US$ 2 bilhões,  a um grupo chinês.
Quatro herdeiros do grupo Moreira Salles estão entre os bilionários do mundo, da revista Forbes. Os quatro totalizam US$ 10,6 bilhões, mesmo antes de vender ações aos asiáticos. Se os laranjas acumularam fortunas desse porte, quanto terão abocanhado as corporações transnacionais que os empregam?

Os brasileiros precisam informar-se e reverter a lastimável situação de  saqueio dos recursos naturais do País, que está afundando no atraso e na pobreza, e paga os juros mais altos do mundo e impostos absurdos, embora seu território tenha a maior dotação de terras aproveitáveis, de água e de sol de todo o Planeta, além de subsolo riquíssimo em minerais preciosos e estratégicos, como das terras amazônicas e pelas riquezas minerais de várias regiões como a dos Seis Lagos, onde há reservas imensas de NIÓBIO, de que o Brasil detém 98% da reserva mundial.

*Doutor em economia pela Universidade de Hamburgo, ex-diplomata do Itamarati e autor do livro "Globalização versus Desenvolvimento". 
e-mail: abenayon.df@gmail.com